Anima Naturӕ

Anima: a alma.

Naturae: pertencente à natureza.

Da natureza ao templo,

Do templo à natureza.

O Iluminismo colocou o homem no centro do universo, reinante absoluto sobre fauna e flora. Em Anima Naturae, o artista Maurício Hilgert questiona esse lugar de superioridade e devolve ao ser humano o seu lugar junto à natureza. Mais ainda, retoma a ancestralidade comum, não mais um ser à parte, mas somente um dos integrantes desse ecossistema infinito e mutável. Utilizando-se de pinturas e desenhos, Hilgert tensiona a relação entre vida e morte, transições de ciclos e pertencimento. 

A poética dos trabalhos é constituída por dois ciclos intrínsecos. Por um lado, traz a perspectiva pessoal do artista, onde elabora a relação dos processos internos (luto, vida e morte, transformação, sublimação), com o todo. Conteúdo este, metaforizado pela utilização do corpo humano sendo transpassado por elementos naturais como folhas, galhos, raízes, etc. Materiais esses, oriundos da deriva do autor pelo seu sítio, em meio ao campo e às nascentes. Onde observa os processos de decomposição e nascimento, a dor e a potência do processo de transformação. Em relação aos materiais utilizados, tintas feitas com terra, tijolo e carvão, trazem a ideia de território e pertencimento e de como somos construídos pelas experiências e locais por onde transitamos. 

O ciclo de significado exterior traz elementos simbólicos e sociais ao representar povos originários em local de destaque nas pinturas. Busca elaborar, a partir da sabedoria ancestral, uma filosofia que pensa a vida de forma cíclica, onde o bem estar do ser humano está intimamente conectado à preservação da natureza. Neste sentido, a figura de uma mulher indígena é a metáfora do sagrado feminino, responsável pela criação e manutenção da vida.

O processo criativo foca na ampliação de possibilidades sensoriais e de produção de sentido para o público, ao mesmo tempo em que considera os sentidos internos do artista em diálogo com a ideia da vida como ciclo e do ser humano como parte da natureza, concepção que procede do conjunto Anima Naturae. Querendo assim, levar o espectador à reflexão sobre os limites dos corpos e a relação com a natureza exterior.